quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Pacto de sangue? Menos teatro, Palocci

Pacto de sangue? Menos teatro, Palocci - TIJOLAÇO 



Pacto de sangue? Menos teatro, Palocci




Não creio que cometeria nenhum erro factual quem descrevesse assim o depoimento de Antonio Palocci a Sérgio Moro:


Depois de um ano preso por Sérgio Moro e de ter feito vários
depoimentos em que negava as versões de que teria havido um acerto
financeiro entre ele ou Lula e a Odebrecht, o ex-ministro Antonio
Palocci mudou sua versão e disse que Emílio Odebrecht e Lula teriam
feito um “pacto de sangue” para que a empreiteira disponibilizasse R$
300 milhões ao ex-presidente. Emílio Odebrecht, tanto no acordo de
delação premiada firmado pelos executivos da empresa com a PGR quanto no
acordo de leniência da Odebrecht, havia negado que tivessem ocorrido
acertos financeiros entre ele e Lula, contrariando a versão de seu
filho, Marcelo, que ontem apresentou narrativa semelhante à de Palocci,
sem os tais R$ 300 milhões. O ex-ministro da Fazenda nega ter
negociado ajuda a Lula ou ao PT e disse que foi só  “mandado apanhar o
dinheiro”.


É o resumo da ópera, porque, até agora, não apareceu – nem mesmo com
Palocci – qualquer documento que sustente a história. O que há, de fato,
é um acordo de delação de Palocci para conseguir a redução ou anulação
de penas que Moro lhe aplicou por crimes que jamais foram admitidos por
ele.


O nome correto do que está acontecendo não é delação, é capitulação.
Algo que um lado, percebendo que não pode resistir às forças
adversárias, desiste, deixa de se defender e se entrega.


Para que isso seja usado como instrumento de convencimento e marketing,
porém não pode ser apresentado como uma derrota. Ele sabia que teria de
ser convincente, porque seu acordo de delação depende dos promotores e
de Moro, não está assinado.


Palocci está na posição de pedinte e é por isso que se viu o
desempenho de um papel. Não havia emoção, não havia o constrangimento de
quem confessa uma verdade envergonhante, havia expressões e
“confissões” sobre fatos que nem sequer haviam sido mencionados e
incursões, até, sobre a vida doméstica de Lula, como quando diz que o
ex-presidente pediu sua ajuda para “convencer” a falecida Marisa Letícia
a “desistir” do suposto prédio do Instituto Lula.


Fez o seu teatro, à procura de acertos nas coxias. Óbvios e, até
certo ponto, compreensíveis e humanos. Embora nem tão perdoáveis para
quem, com os que agora acusa, amealhou poder e oportunidades.


Nada, porém, foi mais ridículo do que o “pacto de sangue”, expressão
que levou anotada para produzir as manchetes. Pacto de sangue? Quem ia
suicidar-se em solidariedade ao  outro? Ele, vê-se, não era, muito menos
é crível que Emílio Odebrecht o fosse.


O pacto de sangue mais provável nesta história toda é que o velho
Emílio desdiga o que disse sob juramento e remende suas declarações,
para que fiquem de acordo com as do filho e, agora, as de Palocci.

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