quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Maria Cristina Fernandes

Maria Cristina Fernandes: o que querem de Temer, o que Temer quer deles - TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”



Maria Cristina Fernandes: o que querem de Temer, o que Temer quer deles

ditalex


Trechos, cortados por minha conta, da sempre lúcida análise política de Maria Cristina Fernandes, que publica seu artigo “A sucessão empoçada” no Valor:


A resiliência do apoio ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas duas últimas pesquisas
eleitorais mantém empoçado o cenário da sucessão presidencial. Os
partidos aguardam seu rumo para montar estratégias. Mas se o último
depoimento em Curitiba tornou mais provável uma condenação em segunda
instância, ainda não foi capaz de antecipar os rumos do partido nem o
caminho a ser tomado por seus eleitores, os únicos blindados ao enfado
com a política.
A manutenção do deputado Jair
Bolsonaro como o segundo nome da sucessão infenso às intempéries traz um
outro problema para agentes políticos que, na ausência de alternativas
claras, precisam minar os nomes consolidados. De Lula, a Lava-Jato
cuida, restando a disputa por seu eleitorado, no PT e fora dele.
Bolsonaro lhes oferece problema de
outra natureza. O deputado já tem uma condenação colegiada, mas em
infração (danos morais) não considerada pela Ficha Limpa como razão de
inelegibilidade. Para atrapalhar a vida do deputado, resta aos colegas
bem situados no coalizão governista, mas perdidos na sucessão
presidencial, criar obstáculos à sua tumultuada vida parlamentar.
Bolsonaro está de saída do PSC, o quinto partido de seus sete mandatos,
rumo à legenda pela qual pretende concorrer à Presidência da República. A
montagem de sua migração partidária, no entanto, enfrenta uma estrada
pedagiada na Câmara.
Bolsonaro e bravata militar são filhos da mesma anomia
Ainda que o deputado não tenha o
respeito dos comandantes das Forças Armadas, sua ascensão nas pesquisas e
a liberdade com a qual generais da ativa comentam aberta e publicamente
a possibilidade de intervenção militar são parte do mesmo fenômeno. A
indisciplina parte do pressuposto de que o poder que poderia coibi-la
não tem legitimidade nem apoio popular para fazê-lo. O silêncio do
ministro da Defesa, Raul Jungmann, acaba por referendar a percepção de
que o governo dos 3,4% é refém de bravatas militares.
(…)

A rejeição é tamanha que a mobilização espontânea de eleitores em
redes sociais tende a sair em vantagem, na conversão do voto, sobre
produções longas e sofisticadas do horário eleitoral. Mas o rechaço aos
recursos do
status quo da política não explica, por exemplo, por que em torno de um governo tão impopular gravitem tantos candidatos.
O ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o prefeito de São
Paulo, João Doria, no entanto, não disputam o apoio do leprosário em que
se transformou o Palácio do Planalto, mas de sua caneta. Apostam que as
liberações para municípios porão em curso as tradicionais máquinas
eleitorais de vereadores e prefeitos com as quais ainda acreditam que
serão capazes de chegar à Presidência.
Tão importante quanto aquilo que vier
a ser obtido pelos candidatos governistas em sua aproximação com o
Planalto é o que o titular espera com seu apoio. À medida que se
aproxima o fim de seu governo, a obsessão do presidente Michel Temer é
um bote que o ponha a salvo do juízo da primeira instância, o mesmo que
ainda empoça sua sucessão.

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