domingo, 25 de junho de 2017

Temer e Sarney Filho queriam enrolar ministro da Noruega

Temer e Sarney Filho queriam enrolar ministro do Ambiente da Noruega - 25/06/2017 - Marcelo Leite - Colunistas - Folha de S.Paulo



Temer e Sarney Filho queriam enrolar ministro do Ambiente da Noruega











Há barulho demais com essa história de a Noruega cortar pelo menos R$
167 milhões em doações para o Fundo Amazônia (e mesmo assim chegando a
um total de mais de R$ 3 bilhões encaminhados desde 2009 para financiar
projetos sustentáveis na região).





O acordo sempre foi desembolsar o dinheiro de acordo com reduções no
desmatamento. Se a devastação cresce desde 2014, era inevitável que os
pagamentos encolhessem.





Os noruegueses acreditam no cumprimento de acordos. Ao escolher o
momento da visita do presidente Michel Temer (PMDB) ao país nórdico para
confirmar (mais que anunciar) o corte, tornam claro que também não se
deixam enganar facilmente.





Temer e seu ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV), parecem
ter acreditado que conseguiriam enrolar o ministro ambiental da Noruega,
Vidar Helgesen.





Anunciaram na segunda-feira (19), três dias antes de desembarcar em Oslo, o veto presidencial integral às medidas provisórias 756 e 758.
Elas haviam sido modificadas pelo Congresso para ceifar nacos ainda
maiores de unidades de conservação (UCs) como a Floresta Nacional do
Jamanxim (PA).





Helgesen já havia escrito uma carta constrangedora a Zequinha Sarney
antes mesmo do veto. Diplomaticamente, elogiava a redução do desmate até
2014, mas se dizia preocupado com a retomada da destruição.





"Essa questão também determinará o futuro de nossa parceria baseada em
resultados", avisava o texto que vazou ainda no domingo (18). "Na
tendência atual, as contribuições baseadas em resultados que podem ser
recebidas pelo Fundo Amazônia [...] já estão significativamente
reduzidas. Mesmo um incremento bem modesto [no desmatamento] levará esse
número para zero."





O papel mais bisonho coube ao ministro Sarney Filho. Ao armar a reapresentação do talho em Jamanxim na forma de um projeto de lei, deu a entender que o problema estava no aumento da área cortada pelo Congresso.





Não. O problema é o governo Temer considerar que não há problema em
diminuir o nível de proteção de 3.000 quilômetros quadrados de uma
floresta nacional (categoria de UC que veda a ocupação humana) apenas
para satisfazer alguns pecuaristas e grileiros do Pará.





Como esse é o objetivo do projeto de lei combinado no Planalto, parece
evidente que Zequinha já se dispõe a engolir o sapo cevado na Casa Civil
de Eliseu Padilha (PMDB). O Congresso do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) só confirmou seu DNA ruralista ao elevar o corte para 4.800 km².





Chega a ser risível o ministro do Meio Ambiente atribuir a Dilma
Rousseff (PT) o repique na devastação dos últimos anos, como fez sem
corar em Oslo. E não só por ser um truísmo.





Dilma sempre desdenhou a preservação ambiental, desde seus tempos nas
Minas e Energia e na Casa Civil. Ela só começou a abrir a porteira de
concessões à bancada ruralista –por exemplo nos sucessivos adiamentos de
prazos para que fazendeiros regularizem seu cadastro ambiental rural
(CAR)– que Temer e Padilha agora escancaram.





Em dezembro de 2006, o texto "Sai daí, Marina" na pág. 2 desta Folha
recomendava à então ministra petista Marina Silva (hoje na Rede)
abandonar o governo Lula, coisa que ela só fez 16 meses depois. Sarney
Filho talvez não possa esperar todo esse tempo.



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