domingo, 21 de maio de 2017

Trama imunda

Se há alguma justiça poética numa trama imunda, é que Aécio morreu. Por Paulo Nogueira




Se há alguma justiça poética numa trama imunda, é que Aécio morreu. Por Paulo Nogueira


















Comido, digerido e vomitado

Este artigo está sendo republicado por motivos óbvias.





Se há uma justiça poética nesta trama sórdida do golpe é a seguinte: quem mais saiu desmoralizado dele é Aécio.


Ele foi comido, para usar uma expressão dos áudios gravados que viralizou.


Não vou escrever, vou gritar: bem feito, Playboy!


Aécio é agora nacionalmente conhecido como covarde. Renan falou de
seu medo diante da delação de Delcídio, de sua paúra em saber se havia
mais coisas que o incriminassem – como se as que houvesse não fossem
bastantes.


Depois Renan tentou remediar e transformou a medo em “indignação”, e aqui peço uma pausa para gargalhadas.


O mesmo Renan que carimbou na testa botocada de Aécio a palavra
covarde definiu Dilma como dona de uma “incrível bravura pessoal”.


Aécio merece o final patético de sua carreira. Com a proteção da
mídia, notadamente da Globo, ele era um corrupto que conseguia passar
por moralista, a exemplo de seu tutor FHC.


O grau de proteção de Aécio na mídia pode ser avaliado nisto: o
editor de política do Globo em Brasília, Paulo César Pereira, é seu
primo. Um jornalista de Brasília familiarizado com Paulo César disse ao
DCM: “Ele passa imediatamente ao Aécio tudo que os repórteres lhe
contam.”


E, evidentemente, suprime coisas negativas para o primo.


Não é tudo. Paulo César é casado com uma das principais repórteres da
GloboNews, Andrea Saadi. Aécio é padrinho de casamento dos dois.


Isto é o jornalismo à Globo, aos Marinhos – isentão.


O conforto majestoso em que Aécio vivia diante de uma imprensa que massacrava seus adversários acabou por culpa dele mesmo.


Aécio foi a peça inicial a partir da qual as demais peças do golpe se
movimentaram. Ao se comportar como o pior perdedor da história do
Brasil, ele começou um processo que acabaria por engoli-lo.


Repito: fez-se aí justiça poética.


O esquema de propinas de Furnas, que ele comandou por muitos anos sem
que ninguém o incomodasse nem na imprensa e muito menos na Polícia
Federal, surgiu com inédito destaque na delação de Delcídio.


Até então, ele, com sua hipocrisia descarada, dizia que era invenção dos adversários. (O DCM produziu, há pouco, um documentário com evidências esmagadoras.)


Apenas para lembrar, lembremos que Delcídio, sobre Furnas, colocou
Aécio e Dilma em situações opostas, como fez agora Renan. Disse que a
raiz do boicote de Eduardo Cunha a Dilma residiu no fato de ela varrer a
corrupção ancestral de Furnas, e enxotar um homem de Cunha.


Aécio fez sua campanha toda presidencial com a fantasia demagógica de homem puro. Cada frase sua continha a palavra corrupção, atirada contra uma mulher que é, ao contrário dele, íntegra e honesta.


Não tivesse ele feito o que fez, em 2018 seria certamente o candidato
do PSDB à presidência. E poderia contar com um eventual desgaste do PT
para chegar – pelos votos – ao Planalto.


Mas ele desencadeou um processo que simplesmente liquidou uma
carreira que sempre dependeu da supressão, por seus comparsas entre os
barões da imprensa, de uma vasta coleção de delinquências.


Os sonhos presidenciais de Aécio estão tão mortos quanto seu tio Tancredo. Ele já foi comido, digerido e vomitado.


Grito mais uma vez: bem feito, Playboy.

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