domingo, 21 de maio de 2017

Mais cinco observações

Mais cinco observações sobre o momento atual da crise, por Luis Felipe Miguel



Mais cinco observações sobre o momento atual da crise, por Luis Felipe Miguel




por Luis Felipe Miguel


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Mais cinco observações sobre o momento atual da crise:


(1) A Rede Globo decidiu demonstrar sua força. Por motivos que ainda
não estão inteiramente claros, ela resolveu rifar Michel Temer e
reorganizar a coalizão golpista em outras bases. Não está sozinha nesse
projeto, nem é necessariamente quem o comanda, mas é sem dúvida o grande
instrumento de sua execução. Ainda que o restante da mídia corporativa
não tenha o mesmo propósito (como demonstra o esforço da Folha de S.
Paulo para desacreditar as gravações de Joesley Batista), o empuxo da
Globo é forte demais e todos já tratam a queda de Temer como questão de
dias. Ou seja: as sucessivas vitórias do PT mostraram que a Globo não
tem o poder de definir os resultados eleitorais, mas ela continua capaz
de desestabilizar governos a seu bel-prazer. O fato de que o usurpador
não mereça que se derrame uma lágrima por ele, muito pelo contrário, não
significa que não precisemos entender o que significa esse poder tão
desmedido.


(2) Temos hoje dois conflitos sobrepostos. O primeiro é interno à
coalizão no poder. O golpismo está dividido, uma vez que Temer decidiu
resistir e usa todos os recursos de que dispõe para adquirir os apoios
que lhe garantam uma sobrevida, ainda que frágil. O problema, para ele, é
que a principal ameaça vem não do Congresso, mas do TSE. A tranquila
maioria que ele construiu nos últimos meses, para aprovar a esdrúxula
tese da separação da chapa, não existe mais. O colegiado que vai definir
sua sorte é menos suscetível aos agrados que o Executivo pode fazer e
tende a seguir o consenso das classes dominantes, que cada vez mais
aponta para a substituição de Temer. Afinal, com exceção do usurpador e
de seus cúmplices mais próximos, todos julgam que rifá-lo é um bom
negócio, se com isso superam a crise. O segundo conflito é entre o
golpismo e o campo democrático. É aqui que entra a bandeira das
diretas-já. O golpe não foi dado para que alguma vontade popular pudesse
se expressar, muito pelo contrário. Foi dado para implantar um projeto
que as urnas sempre rechaçaram. Por isso, as eleições diretas têm que
ser evitadas a qualquer custo.


(3) Entre os problemas que as diretas-já geram, para os donos do
poder, está o fato de que não haverá tempo para impedir a candidatura de
Lula. Mas as diretas não são para eleger Lula. As diretas são para
interromper e reverter o golpe. Por isso, a luta pelas diretas é
indissociável da luta contra o retrocesso nos direitos. O povo deve ser
chamado a se manifestar não para escolher um nome, mas para escolher um
programa. O programa mínimo do campo democrático e popular é a revogação
da emenda constitucional que congela o investimento social, o retorno
da plena vigência dos direitos trabalhistas, a sustação da reforma da
previdência, a plena vigência das liberdades - a partir daí, tentamos
avançar, mas esse é o mínimo. Lula vai se comprometer claramente com
esse programa? Ou não vai resistir à tentação de acenar para as elites,
para recompor a "governabilidade" que deu no que deu? Seja como for, a
realização desse programa depende da pressão organizada, mais até do que
da eleição de A ou B.


(4) O oposto das diretas é a pressão ostensiva do "mercado" (que, no
noticiário, é o nome de fantasia do capital) para que o sucessor não
esmoreça nas "reformas" (o nome de fantasia para a retirada dos
direitos). É impressionante como, na imprensa, a necessidade de ouvir a
população é desdenhada como irrelevante ou estigmatizada como "golpe"
(!), mas as vozes do capital são reverberadas cuidadosamente. O recado é
claro: a vontade popular não pode atrapalhar a vontade do "mercado". O
casamento entre capitalismo e democracia, que sempre foi tenso, agora se
mostra claramente como uma relação abusiva. A regra era que o capital
impunha sua vontade pelos mecanismos do mercado, o que já lhe dava um
poder de pressão descomunal, mas os não-proprietários tinham a chance de
limitar esse poder graças ao processo eleitoral. Essa salvaguarda não é
mais aceita. Ela terá que ser imposta novamente ao capital, como o foi
nas primeiras décadas do século XX.


(5) Não se vê uma única voz se levantar em favor de Aécio Neves. O
pragmatismo da direita devia servir de alerta àqueles que a servem: são
todos descartáveis. "Acéfalo" com a prisão da irmã, como disse a Folha
de S. Paulo; sem poder contar sequer com o abraço amigo de Luciano
Huck... Triste fim do Al Capone de Ipanema.

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