sábado, 22 de abril de 2017

O golpe ainda está em marcha

O golpe ainda está em marcha.

 Por Paulo Pimenta - TIJOLAÇO |



O golpe ainda está em marcha. 

Por Paulo Pimenta

laertecleta


O Brasil hoje gira em torno das chamadas “delações premiadas”
deflagradas no âmbito da operação Lava Jato. Especialmente o depoimento
de Marcelo Odebrecht chocou o país por mostrar a articulação de décadas
entre empresas e políticos que agiram de forma criminosa e se
beneficiaram mutuamente de recursos públicos para formar fortunas,
muitas delas depositadas em contas no exterior.


Porém, o que mais chocou nesse depoimento não foi exatamente o fato
de se descobrir que há corrupção, e sim a forma descarada, debochada,
acobertada com que o diretor de uma das maiores empresas do país revelou
em rede nacional que a construtora criou um departamento de propina e
institucionalizou um esquema de compra de pareceres com uma espécie de
“advocacy” que mais que defender seus interesses patrocinava vantagens e
se aproximava de pessoas a fim de obter benefícios.


Pelo que tudo indica desvelou-se uma história de golpes bilionários
que teve como escudo o financiamento privado de campanhas eleitorais,
desvirtuado para servir aos interesses de indivíduos e grupos poderosos.
É evidente a relação enraizada entre a construtora e os políticos do
PMDB e do PSDB, que a mídia se esforça para acobertar, e a amplitude
desse esquema, o qual parece impossível de se realizar sem a omissão
deliberad, também, de setores do judiciário.


Os depoimentos poderiam ser vistos como positivos se a operação
comandada pelo juiz Sérgio Moro confirmasse a intencionalidade de
combater a corrupção e fizesse essa investigação de forma séria, isenta e
guiada por objetivos públicos, não partidários. A farsa da Lava a Jato é
tamanha que, enquanto as investigações estão em curso, as dependências
da Polícia Federal, seus agentes e equipamentos são colocados à
disposição de um filme que tem por finalidade promover a operação e
cujos financiadores são mantidos em sigilo.


É nítida a ausência de compromisso com os fundamentos republicanos e
democráticos, como a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa
humana e o pluralismo político em todo esse processo. O que tem
caracterizado a “Lava a Jato” é o populismo e o comportamento
autoritário do juiz Sérgio Moro que desrespeita os direitos e faz a
incitação ao ódio.


Isso se observou na condução coercitiva do ex-presidente Lula, no
vazamento seletivo e ilegal de depoimentos e também na manipulação de
delatores com vistas a proteger o presidente ilegítimo Michel Temer e
outras figuras, especialmente do PSDB, ou forjar provas contra o PT a
qualquer custo.


Todos sabem que os depoimentos de delatores exigem cautela e que a
legislação requer a confirmação com provas, no entanto, a imprensa
tradicional, principalmente a Rede Globo, tratou corruptores como heróis
e tornou as peças da investigação um show midiático. A fórmula
encontrada para maquiar as informações foi ungir a fala dos chefes da
construtora com o dom da verdade e criar generalizações sobre tudo que
disseram.


A Globo cria o estereótipo de que todos os políticos são iguais,
oculta quem de fato beneficia e é beneficiado por essas e outras
empresas. Ao mesmo tempo, esse noticiário perversos mantém ileso o
governo ilegítimo que está atolado em corrupção, incluindo o próprio
Michel Temer, que acelera a votação de medidas que liberam as
terceirizações e retiram os direitos previdenciários e trabalhistas.


A falsidade da notícia é algo gravíssimo. Um crime contra a
democracia. A Rede Globo é parte desse golpe e sua estratégia de tratar
como iguais a quem recebeu doações legais de campanha, quem recebeu
recursos de caixa dois e quem recebeu propina e se favoreceu de fraudes
serve apenas para enfraquecer a política e minar a possibilidade do país
reestabelecer a democracia. Da mesma forma, as práticas de setores do
Ministério Público e da Polícia Federal são não apenas controversas, mas
absolutamente comprometedoras.


Não há democracia que sobreviva à tirania de um judiciário que se
empenha em arrancar delações contra um líder político como Lula pelo
fato dele representar um projeto de esquerda no país, para tentar calar a
sua voz e impedir que seja eleito, uma vez que detém 45% das intenções
de voto, segundo as últimas pesquisas.


O teor do comando da “Lava a Jato” se revelou fascista e mostrou que
não busca punir quem fraudou contratos públicos, exigir a devolução
integral dos recursos ilegais ou fechar empresas que formam quadrilha
para operar a corrupção. Estão mais interessados em “caçar as bruxas”, e
com apoio da mídia, a irao repor o selo da honestidade em empresários
corruptos, que serão “presos” em suas mansões e depois vão trocar a
fachada de suas construtoras para seguir operando.


Na lógica em que se desenrola do golpe no país, contando com a
conivência de grandes empresas, da imprensa tradicional e do judiciário,
os partidos de direita cujos velhos líderes foram pegos em corrupção
comprovada vão se reinventar com outros nomes tidos como “não políticos”
para atender aos interesses do capital que precisa deles e exige que
façam a chamada “modernização”. Enquanto isso os partidos de esquerda
terão que lutar para não terminar criminalizados pelo abuso de poder que
se instaurou e que ganha espaço quando se consegue intimidar os
investigados, torturar e destruir suas trajetórias.


Eugenio Aragão, ex-ministro da Justiça, sintetiza esse mal quando diz
que “o mal da tortura é que não oferece provas sólidas da verdade, mas
apenas provas sólidas da (in)capacidade de resistência do torturado”,
lembrando que a tortura que não é apenas física, do pau de arara, do
choque elétrico, mas também é psicológica.


Tem ficado evidente que esses depoimentos passam por uma combinação
prévia sobre o que interessa ser dito na deleção e para estabelecer a
garantia de medidas especiais de proteção aos delatores,
assegurando-lhes uma “nova vida”, sem máculas, em algum paraíso, de
preferência um paraíso fiscal.


É preciso estar atento, o golpe não chegou com militares dando tiros
dentro de um tanque de guerra. As estratégias do golpe iniciado em 2016
no Brasil são mais subjetivas e de difícil percepção.


Contudo alguns líderes de esquerda estão presos, alguns serão
injustamente punidos, a ameaça de jorrar sangue é eminente sempre que a
população se organiza e usa o direito legítimo de se manifestar. A
derrubada da Presidenta Dilma era apenas o início do golpe, e não seu
fim, que, entre outros, prossegue com a retirada de direitos e o uso
político do sistema de justiça. Mas, não podemos calar e submetermo-nos
ao regime de força que vem se desenhando, o golpe ainda está em curso no
Brasil e nos precisamos detê-lo.

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