sábado, 25 de março de 2017

'Curtidas' em rede social motivaram investigação

'Curtidas' em rede social motivaram investigação da PF sobre blogueiro - 24/03/2017 - Poder - Folha de S.Paulo



'Curtidas' em rede social motivaram investigação da PF sobre blogueiro


Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Eduardo Guimarães (centro) deixa a sede da Polícia Federal em São Paulo





Curtidas em páginas ligadas à esquerda no Facebook embasaram os pedidos
de quebra de sigilo telefônico dos suspeitos de vazar informações da
Lava Jato para o blogueiro Eduardo Guimarães, que foi levado a depor na terça-feira (21).





Documentos da Polícia Federal sobre a investigação foram tornados
públicos nesta quinta (23) após o juiz Sergio Moro determinar o fim do
sigilo do caso. Eles indicam, por exemplo, que o interesse da auditora
fiscal Rosicler Veigel pelas publicações do jornalista Fernando Morais
no Facebook chamou a atenção dos policiais.





Reproduções de postagens em que Morais critica a Lava Jato e Moro foram
anexados em seis páginas do pedido de busca e apreensão e de condução
coercitiva da auditora.





Apesar de afirmar que as convicções do jornalista não tinham "qualquer
pertinência" para a investigação, em dois momentos do inquérito a PF
pontua que as publicações dele são "desrespeitosas" com a Lava Jato.





Reprodução
Trecho de representação da PF à Justiça que destaca atividade de Rosicler Vegel no Facebook
Trecho de representação da PF à Justiça que destaca atividade de Rosicler Vegel no Facebook
Segundo os investigadores, o fato de Rosicler seguir as postagens de
Morais seria o indício de sua motivação ("alguma espécie de simpatia ou
alinhamento à posição ideológica do ex-presidente do Brasil") para
divulgar os documentos e justificou a quebra de seu sigilo telefônico.





No despacho, de 6 de março, a PF pediu à Justiça que aplicasse as mesmas
medidas cabíveis a Rosicler para Eduardo Guimarães, o blogueiro que
antecipou, em 26 fevereiro de 2016, a quebra do sigilo fiscal e a
condução coercitiva de Lula.





Moro havia determinado a quebra do sigilo telefônico de Guimarães, autor
do "Blog da Cidadania", argumentando que ele não é jornalista. Na
quinta (23), dois dias após Guimarães ser levado a depor, o juiz voltou atrás e pediu a anulação do conteúdo apreendido em seus computadores e telefones para identificar quem eram seus informantes.





RECONSTITUIÇÃO





Guimarães conta que, quando prestou depoimento na terça (21), os
delegados lhe disseram que já conheciam identidade de seus informantes:
Rosicler Veigel e Francisco José de Abreu Duarte, que telefonou para
repassar as informações supostamente obtidas pela auditora.





A apuração da PF começou do lado de dentro da Lava Jato.





Primeiro passo: levantaram quais servidores tiveram acesso à decisão de
quebra de sigilo de Lula entre 22 e 25 de fevereiro de 2016. Rosicler
está na lista, composta por 22 servidores —são delegados, procuradores,
assessores do Ministério Público e outros auditores fiscais.





Roberto Leonel de Oliveira Lima, chefe dos auditores da Receita,
informou à PF que Rosicler integrava uma equipe que se dedicava
exclusivamente à Lava Jato, mas não estava no núcleo de investigação
contra o ex-presidente.





O pedido de quebra de sigilo de Lula já circulava dentro da Lava Jato
meses antes, desde o final de 2015, sem que houvesse vazamentos. A PF
identificou que apenas dois servidores o viram somente em fevereiro de
2016: Rosicler e Paulo Marcelo Pizorusso dos Santos, também auditor.





Eis que as preferências da servidora no Facebook entraram na investigação e a transformaram em suspeita.





'RADICAL POLÍTICO'





Segundo passo: a polícia analisou os telefonemas feitos por Rosicler de 23 a 24 de fevereiro.





Neste último dia, ela ligou três vezes para Francisco Duarte, entre as
20h17 e as 20h19. Ele se declara jornalista e havia conhecido Rosicler
em janeiro durante uma viagem de avião, segundo a investigação.





Terceiro passo: em visita à página de Duarte no Facebook, a PF traça seu perfil como o de um "radical político".





Os indícios, anexados ao inquérito: curtia páginas ligadas à esquerda,
como a da deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), a do senador Lindbergh
Farias (PT-RJ), a de Fernando Haddad (PT-SP) e, também, a de Fernando
Morais. Além do "Blog da Cidadania", de Guimarães —o que levantou a
suspeita de que teria vínculos com o blogueiro.





Reprodução
Trecho de representação da PF à Justiça que destaca atividade de Francisco Duarte no Facebook
Trecho de representação da PF à Justiça que destaca atividade de Francisco Duarte no Facebook
Lima conta que a auditora recebeu a decisão por e-mail no dia 24 de
fevereiro, em um arquivo em formato pdf, um dia depois de o arquivo
chegar ao prédio digitalizado em um pen drive.





A PF também anexa reproduções de postagens de Duarte "ofensivas", em que
ele se refere à Lava Jato como "milícia-tarefa de Sergio Moro".





Quarto passo: quebra do sigilo telefônico de Duarte entre 24 e 25 de fevereiro, e também de Guimarães.





Com esses dados em mãos, a PF identificou 26 chamadas de Duarte para um
número que, depois, seria identificado como o de Eduardo Guimarães na
noite de 24 de fevereiro de 2016.





Guimarães contou à Folha que assistia a filmes quando percebeu as chamadas em seu celular.





O contato com Duarte —conforme a PF também identificou— se deu por uma troca de mensagens por WhatsApp.





Reprodução
Na investigação, a PF traçou a suposta rota do vazamento de decisão judicial sobre Lula
Na investigação, a PF traçou a suposta rota do vazamento de decisão judicial sobre Lula
O blogueiro relatou na ocasião da publicação que o informante, que disse
não conhecer anteriormente, ditou as informações que estavam no
documento em uma série de mensagens de áudio.





No pedido de condução coercitiva dos três, a PF diz que não tinha
conseguido esclarecer o meio com que a auditora repassou a decisão
judicial a Duarte.

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