quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O Bolsa Família e a virulência dos fascistas — Conversa Afiada

O Bolsa Família e a virulência dos fascistas — Conversa Afiada



O Bolsa Família e a virulência dos fascistas

Vá ler "Os Sertões", minha filha...



















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O Conversa Afiada reproduz texto de Régis Eric Maia Barros, psiquiatra e psicanalista:


Costumo dizer que a célula fascista sempre
esteve viva durante toda a história do mundo moderno e contemporâneo.
Ela fica adormecida como um patógeno oportunista num hospedeiro,
teoricamente, saudável. Em condições favoráveis, ela se replica e cria
um corpo coletivo de idéias fascistas.

Pois bem, recentemente,
uma atriz verbalizou que ela e seus pares do Sul e Sudeste “pagam o
Bolsa-Família ao Nordeste”. De fato, o inconsciente fala e, para quem
sabe escutar e decifrar, ele grita em alto e bom som. Infelizmente, essa
fala não é só dela. Ela foi porta-voz de muitos. São incontáveis os que
crêem nisso. O problema é que, ao crer nessa barbaridade, há uma
estratificação manifesta. De um lado, os que “pagam o bolsa-família” e
do outro, “os que recebem e se esbaldam dessa política inclusiva”. Há um
maniqueísmo: os que trabalham e os que são vagabundos! A atriz pode até
não ter notado, mas é notória, nessa fala pútrida, a idéia de
especiação.

Um escalonamento de base fascista que coloca o
diferente num patamar sempre inferior. Daí, para o preconceito é um
passo, para a exclusão é um pulo e para o extermínio é uma braçada. Se a
voz coletiva assim se constituir, tudo é validado e o mais fraco, mesmo
que em maioria, será exterminado. Não se precisa exterminar com câmaras
de gás. Pode-se exterminar, simplesmente, com os atos de não aceitar,
de rotular, de apelidar, de não incluir e com o ato de culpabilizar.

A
atriz foi clara. Ela pediu que todos silenciassem, porque ela sustenta
os miseráveis do Nordeste. Gostaria de acreditar que essa construção
fosse produto somente do desconhecimento. Contudo, a sua forma
arrogante, vertical, agressiva e preconceituosa foi capaz de desnudá-la.
Eis a célula fascista saindo da quiescência. O meio de cultura dos dias
de hoje é apropriado. Um crescimento conservador sem igual. O
julgamento do certo e do errado pela falsa roupagem do equilíbrio moral
pleno até por que os que propõem isso são repletos de imoralidade. Essa
célula fascista fará muitas mitoses em cada indivíduo solitário que a
possui. Depois, os que foram contaminados por essa célula farão um coro
único – uma coletividade fascista.

O povo nordestino não é
sustentado por seu ninguém. Pelo contrário, nessas terras brotam
inúmeras riquezas humanas, artísticas, culturais e naturais. Sugiro que a
atriz leia “Os Sertões”. Só assim, ela poderá entender que “antes de
tudo, somos fortes...”

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