domingo, 5 de junho de 2016

Entenda como é o processo de formação do 'midiota'

Entenda como é o processo de formação do 'midiota'



 
 
Esse é, basicamente, o processo de
formação do midiota: dá-se a ele a ração diária de meias-verdades, e
ele acha que se tornou uma pessoa bem informada
 
Por Luciano Martins Costa
 
Sabe como funciona?
 
Um articulista ouve uma fonte e, sem
checar a veracidade do fato, publica que determinada autoridade repassou
propina de uma empresa para pagar o cabeleireiro.
 
A pessoa acusada não é ouvida.
 
O texto é impulsionado para as redes
sociais pelo sistema de tecnologia multiplataforma da empresa de
comunicação, e quando a pessoa atingida reage, demonstrando que se trata
de uma mentira, você já leu no Facebook e aquele anão moral que
apresenta um noticiário na emissora de grande audiência faz piadinhas a
respeito do assunto.
 
Algumas horas depois, a pessoa cuja
honra foi atingida anuncia que vai entrar com uma ação na Justiça, e o
veículo posta uma nota minúscula apresentando o que se chama de “o outro
lado”.
 
Mas você não lê o “outro lado”, porque
a mídia tradicional já escolheu um lado para você há muito tempo. Além
disso, a versão original parece mais de acordo com o que você pensa.
 
Esse é, basicamente, o processo de
formação do midiota: dá-se a ele a ração diária de meias-verdades, e ele
acha que se tornou uma pessoa bem informada.
 
E, como se sabe, duas meias verdades costumam compor uma mentira inteira.

Daí, o midiota vai conversar com
outros midiotas, que confirmam suas convicções, e assim se consolida a
visão de mundo que acaba por determinar muitas das decisões que toma no
dia-a-dia.
 
É dessa forma que você passa ao largo das questões nacionais mais importantes.
 
Não se pode acusar um midiota de
desonestidade intelectual, porque para que isso se configure, é preciso
que haja alguma atividade intelectual.
 
E, como já demonstraram importantes
pensadores consagrados, o que se passa, na comunicação de massa, é um
processo de convencimento baseado na repetição de ideias, sem
necessariamente haver um vínculo delas com a realidade.
 
Essas mensagens são mais efetivas quanto menos reflexão crítica for produzida pelo receptor.
 
A narrativa e o discurso da mídia
tradicional no Brasil não se vinculam há muito tempo aos pressupostos do
jornalismo de qualidade.
 
Tudo isso se presta a um objetivo: a manipulação.
 
Assim, com os olhos vendados, você é
levado a apoiar políticas públicas que, no fim das contas, serão
contrárias ao seu interesse.
 
Por exemplo, a pauta do Congresso
Nacional se encheu de propostas que haviam sido engavetadas, algumas das
quais ameaçam remeter o arcabouço legal do País a um atraso de décadas.
 
Direitos arduamente conquistados podem ser relativizados, ou, como gosta de dizer a mídia, “flexibilizados”.
 
O bombardeio de notícias negativas
serve para convencer você de que, infelizmente, essa é a única maneira
de combater a crise econômica.
 
E você acaba agindo contra seus próprios interesses.
 
No tempo em que os grandes jornais
ainda competiam entre si, ou seja, antes de se juntarem numa espécie de
partido político informal, o antigo “Estadão” divulgou uma série de
anúncios para dizer que a concorrente, a Folha de São Paulo, enganava
seus leitores.
 
Vale a pena ver de novo.
 
Só que agora vale para todos eles.
 
Para ver: Antiga propaganda de O Estado de S. Paulo. Apenas desconsidere a última frase:

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