sexta-feira, 22 de abril de 2016

O fracasso em demonstrar que o golpe não é golpe.

O fracasso espetacular da Globo em tentar demonstrar que o golpe não é golpe. Por Paulo Nogueira



O fracasso espetacular da Globo em tentar demonstrar que o golpe não é golpe. Por Paulo Nogueira





Postado em 20 Apr 2016
O pior telejornal do mundo
O pior telejornal do mundo
A Globo quer provar que o golpe não é golpe.


É uma atitude típica de golpistas. Não há registro na história da
humanidade de autores de um golpe que tenham admitido que estavam dando
um golpe.


A Globo, experiente nisso, em 1964 afirmou que a derrubada de João
Goulart era uma “revolução”, uma vitória da “democracia” e mentiras do
gênero.


Durante muitos anos, depois da derrubada de Goulart, a palavra
“revolução” foi adotada irrestritamente por toda a imprensa que tanto
sabotara e desestabilizara a democracia.


Hoje, ninguém mais – nem a própria Globo – ousa falar em “revolução”.


Só que 2016 não é 1964. Naqueles dias, não existia o contraponto digital.


Agora, não. Os sites verdadeiramente independentes – aqueles não
controlados pela plutocracia – venceram o duelo de narrativas. Fora das
empresas dos Marinhos, Civitas, Frias etc, o golpe é tratado como deve
ser: como golpe.


Não que os sites independentes sejam fabulosos, extraordinários, superpoderosos. Não, não são.


É que eles estão falando a verdade, e a imprensa mente descaradamente
para fingir que o estupro da democracia é um sexo consensual.


Foram anos para a revolução desaparecer do dicionário nacional.
Durante muito tempo, 31 de Março, o dia do golpe, era objeto de
espetaculosas comemorações pelos golpistas. Desfiles militares
multiplicavam-se pelo país.


Já faz tempo que ninguém dá a menor atenção ao dia 31 de Março. Sumiu da vida dos brasileiros. Porque era um golpe, e nada além disso.


Até hoje, mais de dois séculos passados, o 14 de Julho é comemorado
intensamente pelos franceses. É o aniversário da Revolução de 1789.


Aquilo foi uma revolução real. Não fosse, teria tido o mesmo destino da quartela de 64 saudada pela Globo como revolução.


O golpe de 2016 nem se concretizou – e torçamos para que não se concretize – e já é universalmente conhecido como um golpe.


Escrevi universalmente no sentido literal. No resto do mundo, em que a
Globo é impotente como um eunuco, também a definição de golpe já se
consagrou.


Tem sido tragicômico o esforço inútil dos caciques da imprensa e seus índios em desmentir jornais e revistas do exterior.


Se havia alguma chance de vender ao mundo a ideia de que não é golpe,
o espetáculo horripilante da votação de domingo na Câmara liquidou o
assunto.


Os correspondentes estrangeiros não são idiotas. Eles viram o que se
passava: bufões corruptos justificando com asneiras inimagináveis seu
voto para derrubar uma mulher honesta, sob o comando do rei do crime
Eduardo Cunha.


Não poderia haver melhor retrato do golpe, e nem propaganda mais devastadora contra os golpistas.


Uma mulher que desde antes de assumir o segundo mandato foi impedida
de governar pela oposição e pela mídia está sendo acusada de imobilismo,
num triunfo do cinismo. Eu prendo você e acuso você de não se mexer. É
mais ou menos o que aconteceu com Dilma perante os plutocratas
golpistas.


Ao contrário de 1964, os golpistas já em 2016 são forçados a conviver
com a qualificação que lhes cabe, golpistas. E não há nada que a
imprensa pode fazer.


Não adianta a Globo destacar em seus veículos, como hoje, que “juízes
do STF” dizem que não é golpe. Você vai ler e descobre que se trata do
decano do reacionarismo Celso de Mello e do velho militante político de
direita Gilmar Mendes.


Golpe é golpe, e a Globo não vai mudar isso. É algo infinitamente maior que ela.


Há uma maravilhosa justiça poética em ver, de imediato, golpistas
serem reconhecidos no Brasil e fora como o que são: golpistas. Ou, para
usar a palavra dura e justa empregada por Jean Wyllys em seu histórico
voto na Câmara, “canalhas”.

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