domingo, 10 de abril de 2016

Governo ainda pode recuperar confiança

Governo ainda pode recuperar confiança, diz presidente do Santander - 10/04/2016 - Mercado - Folha de S.Paulo







O presidente do Santander, Sérgio Rial, é voz destoante no empresariado.
Enquanto vários colegas passaram a dizer abertamente que não há saída
para a crise com Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, Rial afirma que a
presidente ainda é capaz de recuperar a confiança na economia.





"Não há nenhum ponto tão baixo que não possa melhorar, desde que se
encontre a agenda correta", afirma o banqueiro. "Não é a ruptura que vai
levar a uma solução."





Apesar da posição claramente favorável à presidente, Rial não diz se é a favor ou contra o impeachment.





E o vice Michel Temer, daria certo no lugar de Dilma?





"Sempre existe o risco de que só a mudança no Executivo não gere a concertação política" capaz de tirar o país do atoleiro.





No comando desde janeiro do terceiro maior banco privado do país,
Rial afirma que a crise econômica só não é pior porque os bancos estão
segurando as pontas das grandes empresas e renegociando suas dívidas.





De acordo com ele, se bancos e investidores exigissem hoje que as
empresas pagassem em dia, elas não teriam condições de honrar seus
compromissos.





"Os bancos estão envolvidos num esforço de prorrogar, refinanciar,
repensar, redesenhar tudo. Não interessa a ninguém que as empresas
quebrem, que mais gente fique desempregada."







FORA DO ROTEIRO





Carioca, 55 anos, filho de espanhóis, Rial chegou à presidência da
filial brasileira do espanhol Santander sem seguir o roteiro típico dos
ocupantes desse tipo de cargo.





Começou a carreira em bancos estrangeiros, mas deu uma escapada que o
levou a posições de destaque na multinacional americana Cargill e, antes
do Santander, à presidência do frigorífico Marfrig.





Apesar do cenário de terra arrasada que domina o país, ele diz que o setor privado já fez seu ajuste
e acha possível que os primeiros sinais de reação econômica comecem a
dar as caras a partir do segundo semestre. "Acho que a economia não vai
cair muito mais."





Na opinião do presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, a crise
econômica só não é pior porque os bancos estão renegociando as dívidas
de grandes empresas para tentar evitar que quebrem. "Isso não interessa a
ninguém."





Leia a seguir trechos da entrevista.





Folha - Até as maiores empresas do país estão com dificuldades para pagar dívidas. O sr. teme uma onda de quebradeira?





Sérgio Rial - A gravidade da crise é inquestionável. Se hoje
todos os bancos e investidores que compraram papéis de empresas
brasileiras exigissem pagamentos nos vencimentos previstos, teríamos
incapacidade de liquidez no país para isso.





Mas essa não é a proposta dos bancos. Os bancos estão envolvidos num
esforço de prorrogar, refinanciar, repensar, redesenhar tudo. Não é do
interesse de ninguém que empresas quebrem, que mais gente fique
desempregada.





E o impacto dos calotes na saúde financeira dos bancos?





O Brasil tem um sistema financeiro sólido. Minha preocupação não é a
quebradeira. É que haja um alinhamento claro dos bancos para ajudar, e
está havendo isso, e que as empresas façam seu trabalho de casa.





Que trabalho é esse?





Voltar para o negócio principal, deixar de fazer coisas que eram bacanas
e não dá mais para ter, e que os acionistas se comprometam em colocar
recursos.





Como as empresas estão reagindo a isso?





Muitas são familiares e se assustaram. Vinham de uma fase de bonança,
muitas foram pegas de surpresa pela parada abrupta da economia e não
conseguiram ler os sinais de que viria uma queda acentuada no preço das
commodities.





Algumas hesitaram em tomar decisões necessárias, como venda de ativos e
fechamento de operações negativas. Mas este é o momento de revalidar a
crença nas empresas que lideram e estamos vendo vários exemplos disso.





O Santander é um dos grandes financiadores da Petrobras. O sr. teme que a empresa dê calote?





A gente não fala sobre clientes, mas absolutamente não. Não estamos numa
situação de liquidez que levaria o país a deixar de pagar dívidas.





O governo Dilma Rousseff ainda tem condições de recuperar a confiança de empresários e consumidores na economia?





Acho que sim. Não há nenhum ponto tão baixo que não possa melhorar,
desde que se encontre a agenda correta. O governo que está aí foi eleito
democraticamente. Isso é superimportante.





Mas um número crescente de empresários passou a dizer abertamente
que, com Dilma no Planalto, não há saída possível para a crise
econômica...






São posições extremas. Tenho certeza de que a presidente tem as melhores
intenções. Vejo com tristeza a intolerância que se espalhou pelo país e
espero que a gente consiga encontrar um caminho.





Estamos num processo de maturidade política duro, mas necessário. Não é a
ruptura que vai levar a uma solução. Aliás, não há solução na ruptura.
Só há o caos.





O vice Michel Temer corre o risco de enfrentar processos iguais aos
de Dilma. Ele teria condições de formar o tal governo de transição?






O sistema presidencialista criou no imaginário do brasileiro a figura do
salvador, ou da salvadora. Não tenho visto movimentos de concertação
política no país. Sempre existe o risco de que só a mudança no Executivo
não gere essa concertação.





No caso de o vice assumir a Presidência da República, o Congresso estaria apto a ajudar? Não sou capaz de responder.





Acho que chegou a hora de exigir que todos [governo e oposição] resolvam
suas diferenças para termos pelos menos uma agenda mínima de
governabilidade do país, que implica melhores contas públicas e pelo
menos algumas reformas.





O discurso do governo não vai na direção de reformas...





Acho que agora não existe um discurso. Não existe uma agenda. Mas posso dizer que elas acontecerão. São necessárias.





O sr. é a favor do impeachment da presidente ou da renúncia dela?





Prefiro não responder.





Muitos bancos estão prevendo que, neste ano, a recessão será ainda
pior do que a de 2015. Que a queda do PIB talvez passe dos 4%. Qual é a
sua previsão?






Acho mais provável a repetição do que vimos em 2015. A projeção do banco
é inferior a 4%. E acredito que a partir do segundo semestre estejamos
num outro momento.





Já batemos no fundo do poço?





Sempre pode haver surpresas. Não havendo nada dramático além do que
sabemos hoje, acho que a atividade econômica tem tudo para voltar a
melhorar a partir de agora. O setor privado já fez seu ajuste. O
desemprego que a gente vê na rua é consequência do ajuste feito desde
2015.





As empresas estão refinanciando suas dívidas, vendendo coisas que não
são importantes, focando suas operações, trabalhando em produtividade.
Já vemos sinais de que o Brasil pode emergir dessa crise melhor.





Quais são os sinais?





A indústria de calçados começa uma retomada e o setor têxtil pode voltar
a ser forte, já que a importação da China ficou cara. O agronegócio vai
bem. Acho que a economia não vai cair muito mais do que já está dado.





Bancos estrangeiros como o HSBC e o Citibank estão saindo do Brasil. O
país deixou de ser interessante para as grandes instituições financeiras
internacionais?





Não se pode atribuir a saída desses bancos apenas à situação do Brasil. O país tem um mercado financeiro de grande potencial.





Agora, alguns se cansaram da complexidade de operar aqui e também não
conseguiram criar quadros de gestão locais para ter a relevância de que
precisavam.





Vocês conseguiram?





O Brasil representa de 20% a 25% do Santander. Isso é relevância. Nós
investimos aqui mais de US$ 30 bilhões nos últimos 20 anos. É preciso
esse nível de investimento para ter relevância.





O Santander perdeu o HSBC para o Bradesco. Vai tentar comprar as operações de varejo do Citi?





Vamos olhar o Citi. Temos obrigação. Mas vamos manter a disciplina
financeira que tivemos no caso do HSBC [o Santander acha que o Bradesco
pagou muito].





O Santander hoje é oriundo de mais de 20 aquisições. Compramos o Banespa
e o Banco Real, que por sua vez tinha comprado o Sudameris, o Bandepe, e
tem várias outras aquisições.





Hoje somos alternativa aos dois grandes locais [privados, Itaú e Bradesco]. Não há nada errado em ser um grande número dois.

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