quarta-feira, 30 de março de 2016

Moro interferiu politicamente contra Dilma e Lula | Blog do Kennedy

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Moro interferiu politicamente contra Dilma e Lula

Temer não é inimigo do governo, mas o impeachment
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Kennedy Alencar


BRASÍLIA
O juiz federal Sérgio Moro reconheceu perante o STF
(Supremo Tribunal Federal) que errou ao gerar polêmica quando decidiu
tornar públicos grampos de conversas do ex-presidente Lula.


Ora, só pede desculpa, somente solicita “respeitosas escusas”, quem
admite que errou. É importante que Moro tenha tomado tal atitude.
sinaliza maturidade. É bom para a Lava Jato.


No entanto, Moro fez uma tremenda interferência no processo político
que foi desfavorável a Lula e à presidente Dilma Rousseff. Isso não é
papel de juiz.


Ao se justificar para o Supremo, Moro afirmou que “não haviam sido
alcançadas condutas criminais” das autoridades com foro privilegiado e
que precisam de autorização do Supremo para serem investigados.


Se não havia crime, por que divulgar? Isso gerou desgaste para Dilma e o ministro Jaques Wagner, por exemplo.


Em relação ao diálogo entre Dilma e Lula, Moro disse que a presidente
“não mostrou propósito de influenciar, intimidar ou obstruir a
Justiça”. Ora, esse aúdio foi gravado às 13h32 e à noite serviu para um
julgamento sumário de Dilma perante o tribunal da opinião pública. Desde
então, piorou a situação política da presidente.


Sobre Lula, Moro diz ver tentativa de obstruir a Justiça e de
influenciar autoridades. Essa manifestação dele serviu depois para
barrar a posse do ex-presidente na Casa Civil, fundamentando decisão
liminar do juiz Gilmar Mendes.


Há também diálogos sem interesse público nenhum, como uma conversa
entre dona Marisa e um filho dela. Mas é algo constrangedor para  a
pessoa. É preciso ter cuidado com o que se divulga porque, uma vez
causado um dano, fica difícil a reparação em caso de erro.


A mão de Moro pesou contra Dilma e Lula politicamente. Os juízes têm
garantias especiais, como cargo vitalício e proteção contra remoção de
vara, justamente porque são importantes para a sociedade e precisam ser
imparciais. Numa democracia, a Justiça tem a última palavra. A última
palavra é do Supremo, que é o guardião da Constituição. Portanto, um
erro da Justiça tem peso grande.


No caso em questão, a ação de Moro deu mais força ao impeachment da presidente e enfraqueceu Lula publicamente.


*


Estratégia arriscada


Após o rompimento do PMDB com o governo, o impeachment deixa de ser
possível, de ser uma ameaça à presidente Dilma Rousseff, e passa a ser
provável. Outros partidos da base de apoio da presidente poderão se
sentir mais à vontade para votar o impedimento.


Nas palavras de um ministro, uma das principais linhas de reação do
governo deverá ser o que ele chamou de “varejão”. Leia-se: oferecer
cargos e verbas para quem quer ficar. O governo avalia que Temer tem
expectativa de poder. Dilma ainda tem poder.


O risco dessa reação é ser uma negociação parecida com a que foi
feita com o PMDB da Câmara para manter Leonardo Picciani na liderança do
partido. O governo entregou dois ministérios para Leonardo Picciani,
mas o pai dele, Jorge Picciani, se acertou com Temer.


O governo vai lidar com o PSD, o PR, o PP e o PRB. Todos são tanto
quanto ou até mais fisiológicos do que o PMDB. Logo, podem fazer jogo
duplo. Pegar cargos agora, acompanhar o ritmo dos acontecimentos e trair
o governo. Mas não há alternativa. Dilma precisa de votos na Câmara.


Ontem à noite em reunião no Palácio da Alvorada, Dilma e Lula tiveram
uma reunião para avaliar os riscos dessa estratégia, entre outras
linhas de reação. Alguns deputados e senadores petistas já estão
adotando a linha de ataques a Temer. Subir ainda mais o tom pode ser
arriscado.


Essa estratégia agressiva de desconstrução pode se voltar contra o
governo. Como escolheram alguém que teria tantos defeitos para ser
companheiro e vice durante cinco anos? É perigoso.


O inimigo do governo não é Temer. É o impeachment. Dilma não está
nessa situação porque Temer conspirou, mas porque ela errou muito na
política e na economia. Ela explodiu sua base no Congresso e agora tem
de buscar apoio na bacia das almas. Ela está colhendo o que plantou.


O Supremo dá sinais de que não deverá entrar no mérito do pedido de
impeachment. Ou seja, não deverá dizer se houve crime de
responsabilidade ou não. Isso deixará a decisão nas mãos dos deputados e
senadores.


O governo avalia pedir uma manifestação do Supremo sobre isso. Se o
Supremo confirmar que não vai se intrometer, pode ser mais gasolina na
fogueira do impedimento. Isso daria mais contornos políticos ao
impeachment.


Há ainda o peso da crise econômica. Os empresários não estão
defendendo a presidente, como fizeram no ano passado. O mercado aposta
na queda de Dilma.


Logo, há um clima para se votar um impeachment por incompetência. E a
História vai julgar se houve um claro crime de responsabilidade e Dilma
foi deposta legalmente ou se ele não existe e ocorreu um golpe
jurídico.


Por isso, é muito importante avaliar a consistência jurídica do
parecer que será dado pela comissão da Câmara. Se prevalecer um fator
político, a tendência é predomine no longo prazo a versão de que Dilma
teria sido derrubada por um gol de mão.

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