domingo, 31 de janeiro de 2016

O país dos elegantes, por Flávio de Castro

O país dos elegantes, por Flávio de Castro

















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Eu confesso que não sei a verdade: não sei se Lula é ou não dono de
um triplex no Guarujá como não sei se FHC é ou não dono de um
apartamento na Avenue Foch, em Paris.


Sei apenas que a presunção de ser dono de um triplex no Guarujá é
inequivocamente associada à corrupção e a presunção de ser dono de um
apartamento em Paris não tem nada a ver, obviamente, com corrupção.


Especialmente se o apê do Guarujá for um tanto novo-rico e o apê de Paris, um tanto elegante.


A questão é estética.


Lula carregando uma caixa de isopor e sendo dono de um barco de lata é
uma cômica farofa. Se FHC carregasse uma caixa de isopor e fosse dono
de um barco de lata seria uma concessão à humildade.


A questão é classista.


Um Odebrecht sentado à mesa com FHC é um empresário rico. O mesmo Odebrecht sentado à mesa com Lula é um pagador de propina.


Nada disso tem a ver com corrupção. Nada disso revela qualquer preocupação com o país.


A cada dia que passa, é mais evidente que o que está em discussão é quem são os verdadeiros donos do poder.


E os donos legítimos do poder são os elegantes. Aqueles com relação
aos quais não interessa saber como amealharam riqueza porque,
simplesmente, a riqueza lhes cai bem.


A casa grande tem um perfume que inebria toda a lavoura arcaica e sensibiliza até a senzala. É o que estamos assistindo.


Tudo o mais, tudo o que não é casa grande é Lula e os amigos de Lula!


A questão é preconceito.


Vejam como um fraque cai naturalmente bem em FHC. Um fraque assim em Lula, certamente, deveria ter sido roubado.


O Brasil é o país dos elegantes. De uma elegância classista, racista e
preconceituosa deitada eternamente no berço esplêndido do aristocrático
século XIX.


[FHC, por favor, levante a gravata do seu lado direito, está um pouco torta, isso, perfeito!]


Flávio de Castro professor de arquitetura da UNIFEMM

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