domingo, 15 de novembro de 2015

Crash | Juro de 400% no cartão: não tem preço

Crash | Juro de 400% no cartão: não tem preço



Juro de 400% no cartão: não tem preço


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Atualizado em
22/09/2015


Juros anuais-sn


Bateu crise, bateu juro alto. Mas o caso dos juros do cartão rotativo
no Brasil atravessa as fronteiras da realidade. Em 2012, com a Selic
minúscula, na casa dos 7%, nossos bancos cobravam em média 200%. Hoje,
com a Selic em 14,25%, os juros médios do cartão dobraram também, para
quase 400% – e isso é a média, porque tem cartão que cobra mais de 700%.


Não faltam justificativas para essa distorção toda: inadimplência,
falta de confiança na política, a chuva, os 50 km/h de velocidade máxima
na Marginal. Mas prefiro levar uma só em conta: esse juro de agiota
existe porque a gente deixa existir. De cabeça baixa.


A crise tá feia? Tá. Mas na Venezuela e na Argentina está pior. As
duas já atravessaram o horizonte de eventos do buraco negro das agências
de risco, e ainda assim os bancos instalados ali cobram uma fração dos
juros praticados pelos que estão aqui. Até por isso, como observou o
jornalista Maurício Horta numa matéria aqui da SUPER, três das
quatro empresas de capital aberto mais lucrativas da América Latina são
bancos brasileiros: Itaú (7,6 bilhões em 2014), Bradesco (US$ 5,6
bilhões) e Banco do Brasil (US$ 4,2 bilhões).


É. Para quem cobra 400% de juros por ano não existe crise. Até porque
demanda por agiotagem tem em qualquer lugar, seja aqui seja na
Dinamarca. A diferença é que, nesse caso específico, estamos diante de
uma agiotagem legalizada. Os bancos estimulam os clientes a entrar no
rotativo – mostrando em letras grandes e negritadas na fatura o valor do
pagamento mínimo; e quando você faz só  pagamento mínimo, já entra
nesse carrossel dos 400% ao ano. Pior. Imagina um cara que acabou de
perder o emprego. Ele é quem mais tende a cair na tentação de pagar só
uma parte da fatura. Se o sujeito não ler as letras miúdas da fatura,
não vai saber que está pagando esse tanto de juros. E se alguém quisesse
que ele soubesse, essa informação estaria em letras mais bem nutridas.
 Logo, quanto mais crise, maior a demanda por esses juros de agiota. E
quando o cara que perdeu o emprego não pude pagar seus juros de 400%, o
perpetrador da agiotagem nem precisa contratar um capanga para fazer a
cobrança- ele já conta com a lei. É o Estado protegendo uma prática que,
como você vê na tabela ali em cima, já foi devidamente banida na maior
parte do mundo.


Durmamos com isso. E que um dia a gente acorde.

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