domingo, 23 de agosto de 2015

Pequeno guia

Pequeno guia do ódio ingrato da elite a quem a tratou muito bemTIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”



Pequeno guia do ódio ingrato da elite a quem a tratou muito bem

Nos índices publicados no “Vinte Anos de Economia Brasileira – 1995/2014”,
publicação do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI lançada em
julho de 2014 atualizada em março último, fui buscar alguns exemplos de
como “choram de barriga cheia” as elites brasileiras, ou suas
sub-elites, que nem mesmo modos refinados já conservam e adere sem
pudores à selvageria.


Para que estes senhores e senhoras reflitam como o governo dos
“nordestinos e vagabundos”  os beneficiou, a cada dado acrescentarei o
que teria acontecido com o salário mínimo – aquele que o Armínio Fraga
disse estar alto demais – se tivesse crescido na mesma proporção, e em
dólares, para que a valoração seja mais compreensível.


Um salário mínimo, recorde-se, valia R$ 200 em 2002, com o dólar
fechando o ano a  R$ 3,60, o que representaria 55,5 dólares para o
trabalhador humilde.


Começo pelas viagens internacionais, mesmo não considerando as que
Lobão e aquela moça do Revoltados Online disseram que iam fazer, no caso
de vitória da Dilma.


Em 2002, os brasileiros gastaram em viagens internacionais, US$ 0,4
bilhão. Ano passado, foram US$ 18,7 bilhões. 46,75 vezes a mais. Tivesse
crescido na mesma proporção, o salário mínimo seria de US$ 2.594,62. Ou
R$ 9.081, pelo dólar de hoje.


Nuncase viu tanto carro na rua – e com tanto carro de luxo, picapes e playboymóveis entre eles -pois  as vendas de veículos passaram de 1,48 milhões de unidades, em 2002 para 3,5 milhões em 2014.


Para o pessoal do agronegócio não reclamar, registre-se que a
produção de grãos passou de 96,8 milhões de toneladas para 193,4 milhões
ano passado.


O pessoal está “duro” por aqui, não é?


Os investimentos estrangeiros diretos – aqueles que iam fugir do
“Brasil comunista” implantado em 2002 – passaram de US$ 16,6 bilhões
naquele ano (lembrem-se que estávamos na “era das privatizações), para
US$ 62,5 bi em 2014.  Quase quatro vezes mais, a mesma proporção que se
aplicou ao salário mínimo, em dólar.


Mas e os investidores financeiros, a turma do “mercado”, que tem horror ao “bolivarianos”?


Bem, em 2002 tinham investido aqui, em ações, US$ 2 bi. Ano passado,
quase seis vezes mais: US$ 11,5 bilhões. Em salários-mínimos ( e em
dólar), daria para o office-boy receber hoje US$ 320 dólares, ou R$ 1.116, bem mais que os R$ 788 que recebe, se tivesse o mesmo tratamento dos investidores.


Se considerar-se a renda fixa (títulos), é ainda mais gritante: em
2002 tinham tirado do país, vendendo-os, R$ 6,8 bilhões. Ano passado,
compraram US$ 22 bi.


Mas não ficamos “perigosos” para eles, não somos os “frágeis da economia” onde o capital tem medo de investir.


O Risco Brasil em 2002 (medido pelo Emerging Markets Bond Index Plus do JP Morgan)
era de 1445 pontos (depois de ter chegado a 2.500 às vésperas  da
eleição de Lula). Ao final de 2014, era de 259 pontos. 5,6 vezes menor,
portanto.


Se a cada porção de segurança dos investidores crescesse, na mesma
escala, o salário dos pobres, sempre em dólar, o mínimo estaria a R$
1.084.


Ah, mas o Estado brasileiro é inchado e ineficiente e consome suas
receitas com o pagamento do funcionalismo. Será? Pessoal e encargos
sociais da União abocanhavam 4,8% do PIB ao final de 2002 e, no fim do
ano passado, absorviam um sexto a menos, 4,24%.


Hoje, porém, é que vivemos no “caos”.


Tudo o que o governo petista deu-lhes, até hoje, é nada.


Do outro lado, revelou-se, na eleição, a imensa gratidão do povão pelo pouco que conseguiu.


Confirma-se a amarga ironia da frase de Millôr Fernandes de que “pobre é muito mais barato”.


Ele pode estar calado, mudo, confuso, com a onda que se criou com uma
dúzia de ladrões públicos e com a covardia de alguns que prometem
“curar o Governo” de seus gastos sociais e de investimento estrutural.


Pode estar perplexo com um Governo que tenta, para agradar aos
“buchudos”, ser o que não deveria ser e que não fala com ele, não lhe
faz carinhos e só lhe pede que aguente o rojão.


Mas – não, senhores – não é burro, e conhece muito bem esta turma que
se diz pronta a curar o Brasil  que, há 12 anos, quase estava matando.

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