sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Às vezes você tem que ouvir o premiê da China para entender a economia do Brasil

Às vezes você tem que ouvir o premiê da China para entender a economia do Brasil



Às vezes você tem que ouvir o premiê da China para entender a economia do Brasil




Postado em 22 jan 2015

É extraordinário.


Às vezes você tem que ouvir o premiê da China para entender a
economia do Brasil, tamanha a carga de má informação e análise
tendenciosa da mídia brasileira.


Em Davos, o premiê chinês Li Keqiang definiu falou sobre a
desaceleração de seu país. Nos anos do milagre chinês, o crescimento
bateu em 14% ao ano.


Para 2015, a  expectativa é 7%. O universo treme, hoje, diante do
fantasma de uma China sem vigor suficiente para empurrar a economia
mundial.


“O arrefecimento da China é parte do ajuste da economia mundial.”


Troque a China pelo Brasil e você terá o diagnóstico da economia nacional.


É uma verdade simples e incontestável: o arrefecimento do Brasil é parte do ajuste da economia mundial.


Mas quantas vezes você viu isso?


Ao longo da campanha, com seu peculiar cinismo demagógico, Aécio disse copiosas vezes o contrário.


Era como se o Brasil fosse um caso isolado de baixo crescimento numa economia global intrepidamente aquecida.


Nesta mistificação, Aécio recebeu a contribuição milionária de colunistas econômicos como Míriam Leitão e Carlos Sardenberg.


Gosto de dizer que um dos propósitos do jornalismo é jogar luzes onde
existem sombras. O que o jornalismo econômico fez foi o inverso: mais
sombras onde já havia sombras criadas por Aécio.


Não se trata de negar erros que possam ter sido cometidos na política
econômica. Mas de assentar o debate na base a partir da qual a
discussão pode ficar séria: a economia mundial vive desde 2008 uma crise
séria, e o Brasil é parte do todo.


Num primeiro momento, depois de 2008, os países emergentes pareceram a
salvação do mundo. Mas com o correr do tempo ficou claro que não era
bem assim.


Também os emergentes passaram a sofrer: China, Brasil, Índia e Rússia.


Na raiz da crise iniciada em 2008 estava a ressaca do thatcherismo, a
doutrina conservadora da premiê britânica Margaret Thatcher.


Moda nos anos 1980, e copiado no Brasil na década seguinte por FHC, o
thatcherismo defendia coisas como a desregulamentação do mercado
financeiro.


Entregues à própria ganância, os grandes bancos do mundo foram fazendo operações cada vez mais arriscadas.


Uma hora a realidade se impôs e a festa acabou.


A quebra espetacular e em dominó de muitos daqueles bancos foi a senha para a crise que pôs de joelhos a economia global.


No Brasil, a ortodoxia thatcherista ressurgiu no debate graças a Armínio Fraga, o ex-futuro ministro da economia de Aécio.


Fraga é Thatcher desde antes de nascer.


O eleitorado disse não ao thatcherismo. Disse 54 milhões de vezes
não. Mas Dilma parece não ter achado bem isso, ainda que vitoriosa com
uma campanha que negava a ortodoxia, e colocou Joaquim Levy para
comandar a economia.


Este é um bom debate: por que essa concessão ao conservadorismo econômico batido nas urnas?


Mas, enquanto for invocada a falácia do
“Brasil-estagnado-num-mundo-próspero-e-feliz”, estaremos condenados a
debates que apenas emburrecem os que os levam a sério.

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